Visão.
Não me recordo bem o ano em que o fato aconteceu, mas tenho a mais espartana das certezas que foi entre 1973 e 1974, já que os fatos apartir desses anos são muito claros em minha mente, escravizada pela minha memória. Minha vó paterna era uma mulher muito religiosa. Havia em sua casa um altar repleto de pequenas esculturas de Santos - na realidade só havia espaço para uma figura masculina quase assexuada, um pequeno menino Jesús de Praga, vestido de rendas bordadas. Havia uma escultura em especial, da Virgem de Fátima, trazida de Portugal por uma juíza de Direito influente, para quem minha avó trabalhava desde a morte de meu avô, como sua governanta. Aquela imagem santificada de Fátima, traduzia toda a submissão à fé católica, aliada ao estigma português de reverência ao poder político herdada de minha família paterna, pela forte e efêmera presença lusitana de meu avô. Não era à Fátima, de fato a reverência. As atençōes dispensadas à imagem vinham do orgulho de minha vó de poder po