Dos desejos em familia a familia dos desejos.

Desejo sempre foi um tema que muito me intrigou, desde miúdo. A visão de desejo nas mulheres da familia de minha mãe eram muito diferentes das da familia de meu pai. As mulheres de minha familia paterna eram orgânicas, de úteros em fogo, o que justificava as fugas, as histórias de amores impossíveis e as constantes proles invadindo nosso clã suburbano sem nenhum propósito específico de existência planejada. Minhas tias colecionavam filhos de homens diferentes, e falar de qualquer um que as tivesse engravidado, era declarar guerra contra minha avó, que assumia cada neto com um prazer sacrificial, e anulava com poder qualquer imagem masculina que ousasse se intitular pai. Creio que essa mesma chama de desejo desfocado tenha se alastrado em nossos sangues, a partir da contaminação genética trazida das rápidas correntes sanguíneas de meu pai. Por outro lado, essa cadeia de impulsos naturais converteu-se em monotonia visivel em sua relação conjugal com minha mãe. Durante anos me perguntei se meus país faziam sexo, como os da maioria dos país de meus colegas de escola, que segundo seus relatos viviam buscamdo prazer em qualquer canto da casa onde pudessem encontrar privacidade. Bom, nem tanto a julgar pelas nossas conversas de final de dia em um ponto reservado da quadra de basket bem no fundo da escola. Meu pai era um homem sedutor. Quando criança cheguei a ouvir comentários de jovens mulheres sobre seu fisico. Minha mãe...bem...sempre achei muito dificil perceber qualquer traço de sexualidade que fosse em seu comportamento. Creio que essa minha ausencia de analise critica em relacao a esse fato, dava-se em parte a sublimação que nós filhos atribuimos a figura materna. A vaidade so se apresentava uma vez ou outra, e lembro-me nitidamente de seus cuidados com seus cabelos, longos e negros - os que herdei sem o detalhe do comprimento, até porque sou brasileiro e não argentino - bem como dos detalhes de seu batom vermelho. Com todo o detalhe da cor, ainda assim não conseguia visualizar minha mãe em uma relação mais intima com meu pai, capaz de gerar vidas como as minha e de minha irma, de quem, ao contrário, sempre percebi hormonios destilados nos desejos mais privados, das mentes mais obscenas herdados por algum fenomeno genetico presente no inconsciente de minha mãe, que reivindicava o direito de ser mulher, em algum ponto de seu cérebro. Recordo-me de apenas uma vez ter visto meu pai fazer um assédio mais "sexualmente transmissível" em minha mãe, e isso aconteceu na cozinha de minha casa, em uma época dessas em que se comemorava alguma coisa importante do calendário "cívico" de nosso país. Não lembro bem se a morte de um dos cavalos de nosso emtão presidente João Batista Figueiredo ou mesmo a menarca de Roseane Sarney. Emfim! O fato é que eu estava fazendo origami embaixo da mesa da copa, bem quieto - crianças obesas tem a vantagem de ter na gordura do corpo um amortecedor de barulhos - e por isso nao fui percebido. Vi que meu pai fazia umas caras engraçadas, que ao longo dos anos após ser apresentado a Nelson Rodrigues, consegui traduzi-las em miúdos e minhas onomatopéias visuais. E pela primeira e última vez em minha vida, vi minha mãe manifestar uma Inguagem corporal de atração imediata, seguida de um sorriso diferente que só o prazer carnal e capaz de imprimir no rosto de um ser inundado de desejos. Daquela data em diante, não vi mais nada que pudesse me encorajar a pensar uma familia maior. Em outro momento comentarei sobre o dramático fim dessa história, que culminou com minha saida de casa, rompimento com meu pai aos 18 anos de idade, e minha longa caminhada em direção ao que hoje sou.

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