"Posa na penumbra de minha mesa
A mariposa em vermelho, intoxicada.
Escorre pelos cantos de seus lábios
Visivelmente surrados pelo roçar
Da violência que lhe consome a carne, a última gota de alcool.
Olha-me com certa distância
E o forte odor dos tragos alheios
Faz exalar de seu corpo
Uma onda viva de forte tabaco.
Ofereço-lhe água,
e ela sorri, já condenada
Pelo destino que ali
A fez pousar - nada mais
A purifica, a não ser
Meus pensamentos.
Em silêncio toca-me a boca
E sussurra palavras
Que não sei decifrar.
Seus pés vagueiam por baixo da mesa,
E um velho escarpin de salto rompido
Parece agonizar,
Na busca de um par similar
Que lhe complete o passo,
Que lhe estimule o ritmo,
Que lhe conceda a ùltima dança.
Bebo o derradeiro gole da água
Que me mantém lúcido
E como a brisa
Suavemente me afasto
Deixando a mariposa viver
Seus minutos restantes
De efêmera vida."
Joao Brandao, New York City, Quarta-Feira, 3 de junho de 2015, 10:02 da manhã.

Comments

Popular posts from this blog

Pintura Eterna

Luto