A face oculta da paixao
Estava eu pela manhã na academia, tentando perder uns quilos e voltar a uma forma mais saudável, a fim de evitar problemas futuros de saúde. A minha frente, vejo um rapaz, exercitando-se energeticamente. Algo tão intenso, que tomava toda a minha atenção e sequer chegava-me a concentrar em meu próprio exercicio. Entre uma puxada e outra, olha-me pelo canto dos olhos, como que suspeito de que também eu o fitava. Impossível não fazê-lo! . comportava-se tal como as máquina a que nos cercavam. Uma Figura longelínea, com pele muito branca, um rosto muito jovem e um semblante agressivamente afoito. Apesar da magreza, tinha os músculos muito bem definidos, como os de um bailarino clássico.
Estávamos apenas os dois ali, naquela sala enorme, cercada de espelhos por todos os lados, como em um compartimento de nosso insconsciente fechado, fazendo parte de um sonho alheio. Nossos reflexos estavam por todos os lugares, do teto ao chão. Ao perceber que aquela jovem criatura angustiava-se, e angustiando-me da mesma forma - claro que eu poderia sair se me sentisse incomodado, mas quando eu teria tempo novamente de voltar a exercitar-me e perder os quilos que Dr Lee tanto queria?- O fato é que me apossei da idéia de meu corpo obeso, e fiz-lhe um comentário:
- Meu médico quer que eu tenha um corpo como o seu! Mas acho que isso é genética, você não acha?
Ávido pela oportunidade da fala, que lhe prendia palavras na garganta, e atitudes nos olhos, retirou seu headphone e falou-me com um ar surpreso, e com um sorriso como que suas preces tivessemos sido ouvidas:
- Se quiser ficar com meu corpo, nada melhor do que romper uma relação afetiva! Você perde 8 quilos em uma semana.
Sorri, na certeza de entender cada gesto que agora se justificavam, através do grito que seu coração lançava através de cada esforço dispensado, em cada um de suas séries que não só o faziam queimar calorias internas, como fazer sua alma chorar de um vazio que tentava ser preenchido com a força braçal. Percebi que necessitava de um ouvido; um alter-ego qualquer que pudesse servir-lhe de eco silencioso. E contninuou:
- Minha namorada rompeu comigo, e hoje faz exatamente uma samana. Mas sabe de uma coisa? ...bem melhor assim! Ela era muito imatura - só 24 anos - e acho que ela era muito superficial! Sim - ela era superficial de mais!
Ouvi-lhe, e perguntei-lhe o que fazia na vida, ao que a mim respondeu ser ator. Então com meu sorriso de gordo-amigo, comentei-lhe que ele estava em um local privilegiado na análise da vida, já que a profissão ajudava-o a entender as varias nuances dos relacionamentos humanos. Numa tentativa de não vê-lo tão mais agressivo - e confesso aqui, de poder continuar meu trabalho fisico - tentei focar-lhe a própria emoção, tentando exercitar alguma coisa que aprendi sobre relações humanas no decorrer de meus 44 anos de entrega ao pensamento.
Continuou então, o jovem rapaz, que mais parecia fisicamente uma Sílfide, enclausurada em um jarro de vidro, batendo suas asas para todos os lados, numa tentativa de fugir de algo que resistia incansavelmente.
- Ela era futil. Modelo, entende? Modelo!!!...e isso é que é o pior !!!...e eu sou muito cimento, sabe?!. Aqui mesmo, agora, nesse momento, fico morrendo de ciúmes só em saber onde ela está. Já faz uma semana! Hoje está fazendo uma samana!
E olhou em seu relógio, que pela forma com que se expressava, parecia ser sua única companhia na contagem dolorosa da partidária da amada, segundo ele imatura, superficial e acima de tudo...Modelo!
O jovem parecia estar explodindo, e a mim pareceu confundir com um canal de esgoto putrefado, a fim de enviar todas as suas impurezas, e manter-se com a impressão de limpeza passageira. Assumi a postura! Porém, esgotos também possuem uma manutenção - ainda que seja apenas uma vez em toda sua vida de servidão - e percebi que aquela seria a minha vez de também limpar-me daquela situação, confrontando aquela criatura languidamente estressada; poéticamente ferida, com alguns de elementos de seu próprio discurso. Indaguei-o se, com todos esses defeitos, se tanto mal lhe fizera, qual o motivo da tristeza que fizera-lhe perder tantos quilos. Do contrário, ele deveria estar feliz, e se não forte, pelo menos gordo. E se não tinha tanta importância assim, qual a razão de estar dividindo comigo, um estranho, uma experiência que para ele não dizia nada, e sendo assim, muito menos a mim, pois entender is que Estaria falando de algo que não conhece, portanto não merece do minha atenção, a menos que me visse ali como um estúpido, ou quisesse exercitar algum tipo de laboratório novo de atuação, já que se tratava de um artisita, em seus afazeres diarios. Como que uma injeção de um anti-enflamatório tão forte, capaz de fazer um cavalo gemer de dor, o rapaz avança em minha direção com a intenção de refutar, mas faltam-lhe palavras, ou lógicas, e seu corpo tomada de forma abrupta em uma curva voluptuosa, como se fosse um galo de rinha, a desafiar seu adversário. Tentou balbuciar algumas palavras mas nada conseguira. Parecia que a força da lógica havia cedido lugar ao seu sentimentalismo, e que minhas simples e quase ingenuas inferencias fizeram-lhe decolar de seu voo rasante, em direção a uma realidade esculpida sobre si mesmo. Eu, fitando-o, sem palavras, sentado a minha maquina tentando exercitar os musculos de minhas pernas, num movimento constante de sobes e desces, como se aquilo também fosse a corda de meu relógio, a recarregar-me as baterias. Percebi que o jovem se frustrara com minhas palavras, e não querendo vê-lo mais magoado, e nem a mim mais usado, comecei a falar de exercicios, ao que ele agiu positivamente, e um trunfo de vaidade voltara-lhe à expressão facial, falando de estilos diferentes de atividades que podem deixar nosso corpo mais delgado, exatamente como o dele. Percebi que o capitulo sobre sua paixão, minutos atrás em decomposição, havia cedido lugar a uma nova história - pelo menos ali, naquele momento - e que o jovem sairá do lugar que estava ocupando empacadamente, e ate consegui ver alguns de seus novos movimentos, quando começou a falar de sua experiência com a Huasca. Terminado meu exercicio, despedi-me, e ele com um sorriso o qual não havia introduzido às suas diversas expressões, se apresenta: Muito prazer! Joski!
No dia seguinte, decidi ir ao ginasio a tardinha, pois não queria ficar em um ambiente turbulento. Minutos depois de minha chegada, aparece Joski. Me comprimenta como se fossemos velhos conhecidos e ma fala de sua experiência com a Huasca, ao que vai logo comentando: Estou decepcionadissimo com os resultados da Huasca. Se soubesse nao yteria nem ido. Tudo muito superficial, Nada de consistente ou maduro...

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