Luto


Fechei as portas da sala, por onde entrava o afeto. Apaguei minhas luzes cuidadosamente, cerrei cada uma de minhas janelas, para que nenhum outro expectro viesse a invadir meu silêncio.

Cortei a peça de roupa negra que me ornamentava a tristeza, e suave deleito-me sobre o pranto, na esperança de adormecer, e esquecer o pesadelo em vigília que hora me atormenta.

Sufoco lágrimas num ponto qualquer da garganta, e reinvento-me a fim de sobreviver a mais uma batalha sem vencedores.

Ferido, cansado e melancólico, arrasto-me solenemente a fim de atravessar os limites do campo minado que por escolha resolvi trilhar.

Em trapos, esquivo-me num canto humido no final de um frio e longo corredor, onde disputo o espaço com uma escultura sem bracçs, quebrada, solenemente relembrada apenas por sua história quase inexistente.

Contraio meu coração, e sinto-o apertado, quase gritando de dor -  não a primeira sofrida, tampouco a última  ser vivida.

Espero ansioso pelo por do sol, e com ele o fim do luto que me enegrece meus pensamentos. Recuso-me a fugir, ou mesmo fingir que não me respeito, para que venha a sentir com indiferença a grande perda que me fez sangrar a emoção. Vivo, sinto, sofro e me recomponho. Nenhuma morte é eterna, nenhuma dor é infinita, e nenhuma madrugada de tormenta existe, sem que um sol venha a brilhar nas primeiras horas da manhã.

João Brandão Júnior, Miami ,13 de Marco de 2013.

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