Luto
Fechei as portas da sala, por onde entrava o afeto.
Apaguei minhas luzes cuidadosamente, cerrei cada uma de minhas janelas, para
que nenhum outro expectro viesse a invadir meu silêncio.
Cortei a peça de roupa negra que me ornamentava a
tristeza, e suave deleito-me sobre o pranto, na esperança de adormecer, e
esquecer o pesadelo em vigília que hora me atormenta.
Sufoco lágrimas num ponto qualquer da garganta, e
reinvento-me a fim de sobreviver a mais uma batalha sem vencedores.
Ferido, cansado e melancólico, arrasto-me solenemente
a fim de atravessar os limites do campo minado que por escolha resolvi trilhar.
Em trapos, esquivo-me num canto humido no final de um
frio e longo corredor, onde disputo o espaço com uma escultura sem bracçs,
quebrada, solenemente relembrada apenas por sua história quase inexistente.
Contraio meu coração, e sinto-o apertado, quase
gritando de dor - não a primeira
sofrida, tampouco a última ser vivida.
Espero ansioso pelo por do sol, e com ele o fim do luto
que me enegrece meus pensamentos. Recuso-me a fugir, ou mesmo fingir que não me
respeito, para que venha a sentir com indiferença a grande perda que me fez
sangrar a emoção. Vivo, sinto, sofro e me recomponho. Nenhuma morte é eterna,
nenhuma dor é infinita, e nenhuma madrugada de tormenta existe, sem que um sol
venha a brilhar nas primeiras horas da manhã.
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